O processo democrático tem sido alvo de constantes golpes ao longo da história política do continente latino-americano, seja pela ascensão ao poder de regimes militares autoritários, entre os anos 1960 a meados dos anos 1980; seja no presente, por meio de dispositivos parlamentares, jurídicos e midiáticos que impõem formas de controle e exclusão. Nesse contexto, ganha relevância a discussão sobre o papel da literatura na resistência aos autoritarismos, não apenas pela tematização de situações encobertas na vigência desses regimes, mas pela elaboração de uma linguagem e imagens capazes de explicitar conflitos e tensões que reconfiguram as formas de ver, sentir e pensar o mundo.
O cruzamento entre literatura e ditaduras proposto pela III Jornada de Crítica Literária: Literatura e Ditaduras provoca o debate sobre as relações entre estética e política, pondo em evidência situações históricas do passado, no interesse de uma reflexão sobre seus significados na cultura contemporânea. No contexto atual, em que a discussão sobre os rumos da democracia ganha novo fôlego, a literatura renova a sua indagação sobre o passado ditatorial, redefinindo seu papel de intervenção no presente.
A III Jornada de Crítica Literária: Literatura e Ditaduras objetiva criar um espaço de discussão qualificada e aprofundada sobre as articulações da literatura contemporânea com o passado ditatorial, a fim de problematizar a situação do próprio discurso literário diante da permanência dos autoritarismos, dos limites da democracia e dos impactos de tais regimes sobre as experiências sociais e subjetivas.
O evento reúne pesquisadoras e pesquisadores dedicados à investigação crítica e teórica sobre as relações entre literatura e ditadura; escritoras e escritores que têm tratado da matéria em suas obras; além de estudantes de graduação e pós-graduação que desenvolvem trabalhos em torno do tema, constituindo um espaço privilegiado de reflexão sobre aspectos relevantes da literatura contemporânea, especialmente no que diz respeito às suas articulações com contextos ditatoriais do passado e seus desdobramentos presentes e futuros.
Coordenação: Paulo C. Thomaz (UnB), Regina Dalcastagnè (UnB) e Rejane Pivetta (UPF)
Comitê científico: Ricardo Barberena (PUC-RS), Luciene Azevedo (UFBA), José Leonardo Tonus (Universidade de Paris-Sorbonne), Carmen Villarino Pardo (Universidade de Santiago de Compostela), Lúcia Osana Zolin (UEM) e Lucía Tennina (Universidade de Buenos Aires)
Comissão de apoio: Aline Teixeira da Silva Lima, Andressa Estrela Lima, Berttoni Licarião, Cátia Maria de Araújo Oliveira, Débora Lucas Duarte e João Pedro Coleta da Silva
Organização: Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea
PROGRAMAÇÃO
3 de junho - Domingo
Recepção dos convidados
4 de junho – Segunda-feira
Local: Auditório do Instituto de Letras, ICC Sul, Subsolo, Sala 99
8h30
Mesa de abertura: A literatura como gesto de resistência
Paulo Thomaz – Universidade de Brasília/UnB
Rejane Pivetta – Universidade de Passo Fundo/UPF
Regina Dalcastagnè – Universidade de Brasília/UnB
9h30
Mesa 1: Autoritarismo, perdas e afetos
O indizível sentido do amor e os sobreviventes silenciosos do golpe de 64: desvios nas trajetórias pessoais, cortes e perdas
Rosângela Vieira Rocha – Escritora/Pesquisadora Universidade de Brasília/UnB
Rio-Paris-Rio e o autoritarismo nos corpos, nos afetos, na genealogia: o que uma ficção sobre o golpe de 1964 tem a dizer sobre o golpe de 2016
Luciana Hidalgo – Escritora/Pesquisadora Universidade Sorbonne Nouvelle – Paris 3
Mediação: Regina Dalcastagnè
10h30: Intervalo para o café
11h
Mesa 2: Memória e desaparecimentos
Memória e elaboração do trauma
Eurídice Figueiredo – Universidade Federal Fluminense/UFF
Memória e ritual em O velório, de Bernardo Kucinski
Jaime Ginzburg – Universidade de São Paulo/USP
Mediação: Berttoni Licarião
12h: Intervalo para o almoço
14h
Mesa 3: Literatura e resistência
Literatura e resistência: imagens da ditadura
Maria Zilda Cury – Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG
Do espaço agônico ao espaço agonístico: literatura, imagem e contestação em Notas de um tempo silenciado
Leila Lehnen – Universidade do Novo México/UNM
Mediação: Humberto Torres
15h
Fórum de estudantes: Mesa 1
Inventário de silêncios: memória e fotografia em A resistência, de Julián Fuks
Berttoni Licarião – Universidade de Brasília/UnB
A “mulher subversiva” da ditadura militar em Maria Pilla
Aline Teixeira da Silva Lima – Universidade de Brasília/UnB
Existir na ditadura como um corpo dissidente: sobre Ruddy Pinho
Leocádia Aparecida Chaves – Universidade de Brasília/UnB
Na teia do sol: violência e ditadura
Andressa Estrela – Universidade de Brasília/UnB
Mediação: Paulo C. Thomaz
16h: Intervalo para o café
16h30
Mesa 4: A ditadura vista pelas margens
Vozes da periferia e a ditadura
Sonia Bischain – Escritora/Coletivo Cultural Sarau Poesia da Brasa
Quando todas as vidas importam mas só os corpos negros são tombados: notas sobre a literatura negra em contextos de exceção
Lívia Natália – Universidade Federal da Bahia/UFBA
Mediação: Paula Q. Dutra
5 de junho – Terça-feira
Local: Auditório do Instituto de Biologia
9h
Mesa 5: Literatura indígena e repressão militar
O fuzil e as flechas: história dos índios na ditadura militar
Rubens Valente – Escritor/Jornalista
Parem de calar a nossa voz: não se seca a raiz de quem tem sementes para brotar
Eliane Potiguara – Escritora
Mediação: Pedro Mandagará
10h: Intervalo para o café
10h30
Mesa 6: Literatura e a democracia por vir
Estado pós-democrático e literatura
Paulo César Thomaz – Universidade de Brasília/UnB
Experiência ditatorial e ficção democrática
Rejane Pivetta – Universidade de Passo Fundo/UPF
A poesia é o escândalo da palavra: testemunhos
Pedro Tierra – Escritor
Mediação: Lúcia Tormin Mollo
12h
Intervalo para almoço
14h
Mesa 7: Literatura, política e subjetividade
Construção da empatia por meio da literatura: uma alternativa à falta de memória
Beatriz Leal – Escritora
A inquietude existencial e seu reflexo na produção literária em regime de exceção
Raimundo Nonato – Universidade Federal do Amazonas/UFAM
Mediação: Graziele Frederico
15h
Fórum de estudantes: Mesa 2
As tensões entre indígenas e intelectuais em Quarup, de Antonio Callado
Humberto Torres – Universidade de Brasília/UnB
A ficção como investigação da história familiar: retorno e derrota em Patricio Pron
João Pedro Coleta da Silva – Universidade de Brasília/UnB
Colcha de retalhos: a narrativa fragmentada e a construção da memória em A resistência e Volto semana que vem
Ix Chel Barbosa de Carvalho – Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ e Universidade de Brasília/UnB
A construção de uma memória coletiva e individual: dores e traumas provocados por ditaduras
Carlos Wender Sousa Silva – Universidade de Brasília/UnB
Mediação: Rejane Pivetta
16h: Intervalo para o café
16h30
Mesa 3: Militância, repressão e Direitos Humanos
Recriando a militância contra a ditadura em três livros: Felizes Poucos, O Fantasma de Luís Buñuel e A mãe da mãe de sua mãe e suas filhas
Maria José Silveira – Escritora
Direito à memória como princípio de justiça
Maria Pilla – Escritora
Mediação: Patrícia Nakagome
Organização
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